Por que Florianópolis é Considerada Modelo de Segurança Pública?

Recentemente rolou no Instagram um experimento social feito por um morador da ilha. Ele deixou sua bike de mais de R$ 30 mil, sem cadeado, em algum ponto da Beira-Mar Norte. No dia seguinte, voltou ao local e… lá estava ela. Intacta. Solitária. Esperando por ele como se nada tivesse acontecido.

Em um país onde deixar o retrovisor do carro na rua já é um risco calculado, essa cena parece roteiro de ficção. Mas em Floripa, é quase cotidiana. E é aí que começa a resposta para a pergunta que muitos fazem: por que Florianópolis é considerada um modelo de segurança pública no Brasil?

A exceção entre as capitais brasileiras

Enquanto grandes cidades tentam conter a escalada da violência urbana, Florianópolis segue na contramão. A cidade fechou 2023 com os menores índices de homicídio entre as capitais brasileiras, segundo dados do Atlas da Violência (IPEA e FBSP).

Mas é importante separar os números: a cidade de Florianópolis tem pouco mais de 500 mil habitantes — e não 1,5 milhão, como às vezes se diz por aí. Esse número se refere à Região Metropolitana, que inclui 22 municípios com realidades bem diferentes. Mesmo assim, dentro desse recorte, os dados impressionam.

A capital catarinense registrou apenas 16 homicídios em 2022, uma queda expressiva em relação a anos anteriores. Números assim não aparecem por acaso. Há planejamento, integração e, principalmente, um jeito próprio de encarar a segurança — que vai muito além da presença de viaturas.

O drone não dorme

Florianópolis investiu pesado em tecnologia de vigilância urbana. Hoje, são mais de 2.000 câmeras ativas em 500 pontos estratégicos da cidade, com monitoramento 24h por órgãos de segurança integrados.

O uso de drones para patrulhamento de praias, contêineres de atendimento móvel e projetos como o Sentinela, voltado ao monitoramento de áreas turísticas, formam um ecossistema que se antecipa ao problema.

A cidade também consolidou centros de controle que integram Polícia Militar, Guarda Municipal, Defesa Civil, Ministério Público e Prefeitura — o que, convenhamos, em outras capitais brasileiras ainda é tratado como teoria.

O resultado é um ambiente onde o cidadão se sente observado — e, pela primeira vez, isso pode ser uma coisa boa.


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Prevenção começa antes do BO

Não se trata apenas de reagir ao crime, mas de evitar que ele aconteça. E Floripa tem apostado firme na prevenção comunitária e social. Projetos como o Mãos Dadas, que atuou no Norte da Ilha em comunidades como a Vila União, são exemplo disso.

Lá, antes dominada por conflitos e insegurança, a região passou por ações coordenadas com presença da PM, ações sociais, mediação comunitária e reurbanização. O foco foi restabelecer vínculos e ocupar os espaços com vida.

Quando segurança deixa de ser só policiamento e passa a ser relações de confiança, o efeito é duradouro — e mais eficaz do que qualquer estatística.

O crime invisível também importa

Entre os bastidores da gestão, há ações pouco divulgadas, mas extremamente eficazes. Uma delas é a fiscalização de materiais metálicos furtados — como fios de cobre, hidrômetros e tampas de bueiro. Pode parecer pequeno, mas isso representa uma economia gigantesca para o poder público e quebra um elo essencial do mercado clandestino.

Operações como Fio Desencapado e Gota D’Água atacam justamente essas estruturas criminosas silenciosas que, embora não estampem manchetes, prejudicam o cotidiano da população.

Sim, até o poste que fica aceso faz parte da estratégia de segurança.

Floripa mergulhou fundo no conceito de CPTED

Se você nunca ouviu falar em CPTED (Crime Prevention Through Environmental Design), anote esse nome. Trata-se de uma filosofia urbanística que prega que o ambiente físico pode ser desenhado para reduzir o crime.

Florianópolis aplicou o conceito com inteligência: 186 praças foram revitalizadas desde 2019 e 20 novas foram criadas. Áreas antes esquecidas e escuras agora têm iluminação, bancos, parquinho, quadra e, principalmente, gente usando.

A Praça da Serrinha, no Maciço do Morro da Cruz, é símbolo disso. Era evitada. Hoje tem criança jogando bola e avó cuidando da horta comunitária. O mesmo vale pro entorno da Lagoa Pequena, que virou point de caminhada e slackline.

Quando o espaço público é ocupado com vida, o crime recua. Porque a comunidade vira sua própria vigilância.


Além dos dados e das políticas públicas, Florianópolis tem algo que não se explica. Você apenas “sente”. Quer saber mais sobre isso? Leia também Como me apaixonei por Floripa (e nunca mais fui embora).


Os riscos da “ilha vitrine”

Mas é preciso fazer um alerta. Ser modelo não significa ser perfeito. A segurança pública de Florianópolis ainda enfrenta desafios importantes de equidade territorial.

A cidade é marcada por uma segregação geográfica histórica, onde áreas nobres recebem investimentos antes das periferias. A maior parte dos recursos vai para as regiões centrais, turísticas ou mais visíveis.

Enquanto isso, comunidades como o Monte Cristo ou o Monte Verde ainda convivem com ausência do Estado em várias frentes — e não há tecnologia que substitua presença humana e acesso digno aos serviços básicos.

Ser exemplo em segurança pública exige mais do que câmeras. Exige olhar sensível e políticas públicas que tratem toda a cidade como prioritária, não só os cartões-postais.

Por que tudo isso importa?

Porque viver em Floripa hoje é viver em uma cidade que, sim, tem problemas. Mas também tem vontade de fazer diferente.

É andar na rua com o celular na mão, ver as crianças brincando no parquinho às seis da tarde, encontrar a Guarda Municipal tirando dúvidas de turistas ao invés de só aplicar multa.

A segurança aqui não é só número de boletins de ocorrência. É sensação de cuidado coletivo. É saber que existe um esforço, ainda que imperfeito, pra proteger quem mora e quem visita.

E é isso que transforma Florianópolis em modelo de segurança pública no Brasil. Uma cidade não apenas bonita, mas “vivível”.


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