Floripa Está Crescendo Demais? Reflexões sobre o futuro da ilha

Você já tentou atravessar a ponte às 18h em uma terça-feira comum? Ou pegou a fila do supermercado no domingo à tarde e pensou “ué, hoje é feriado nacional e ninguém me avisou”? Pois é. Se você vive em Floripa, provavelmente já percebeu: a ilha está cada vez mais cheia. De gente, de carros, de sotaques. De tudo.

E não é impressão. Florianópolis está entre as capitais brasileiras com maior crescimento populacional dos últimos anos. Segundo dados do IBGE, a cidade ultrapassou 500 mil habitantes, mas na prática, entre turistas, estudantes e recém-chegados “de mudança”, a sensação é de que tem sempre mais gente do que a conta oficial.

O paraíso cobiçado

Vamos combinar: faz sentido querer morar aqui. Mar, natureza, segurança acima da média, ritmo mais tranquilo (pelo menos em teoria). Floripa virou o refúgio perfeito pra quem quer sair da selva urbana sem abrir mão da cidade.

E é aí que o paraíso começa a virar vitrine. A cidade que um dia foi segredo de surfista e reduto de pescadores agora disputa espaço com hashtags como #nomadedigital, #investimentoimobiliario e #vempravida.

A migração pra cá não vem só de São Paulo, Rio ou interior de Santa Catarina. Tem gente chegando do Brasil todo — e de fora também. Uns buscando qualidade de vida. Outros, uma nova chance. Muitos, só uma vista bonita pra trabalhar de fone.

A ilha que cresce sem alarde

Floripa cresceu rápido. E nem sempre acompanhou esse crescimento com estrutura. Tem bairro com mais prédios do que ruas asfaltadas. Norte da ilha com fila pra tudo, e Sul da ilha que ainda espera saneamento. A Lagoa da Conceição virou cartão-postal com cara de congestionamento.

Mas o que mais muda é o espírito do lugar. A cidade que antes parecia uma vila grande agora se divide entre quem chegou ontem e quem sente falta de quando tudo era mato — literalmente.

E isso não é uma crítica à chegada. É uma constatação: toda vez que alguém decide ficar, Floripa se transforma um pouco. A ilha vai sendo moldada por novas culturas, novos hábitos, novas demandas.


Se você também sonha em morar aqui — ou já deu esse passo — talvez se identifique com essa história pessoal sobre Como me apaixonei por Floripa (e nunca mais fui embora)


Floripa é cidade, sim. E precisa ser tratada como tal.

Tem quem ainda fale de Floripa como se fosse uma vila de pescadores com wi-fi. Mas a verdade é que estamos falando de uma capital, com problemas e responsabilidades de capital. Mobilidade, moradia, habitação popular, saúde pública e (por que não?) um modelo sustentável de crescimento.

A população de Florianópolis aumentou, mas os espaços continuam os mesmos. O que era uma rua tranquila hoje é atalho de trânsito. O que era terreno baldio agora é condomínio fechado. E o que era mar aberto virou ponto de jetski.

A pergunta que fica é: até onde Floripa aguenta? Qual o limite da ilha antes de virar só mais uma cidade bonita que perdeu o encanto?

E se crescer demais?

Talvez Floripa nunca vá deixar de ser desejada. Mas se continuar crescendo sem planejamento, sem acolher com responsabilidade e sem preservar o que tem de mais valioso — sua identidade, sua natureza e sua comunidade — o risco é virar um cartão-postal habitado por gente que só vê a ilha pela janela do carro.

Não se trata de fechar a ponte. Mas de abrir o debate.

Floripa não pode ser só destino. Tem que ser casa. E casa boa é aquela que acolhe, mas também que cuida de quem já mora ali. Que cresce com afeto, com infraestrutura, com respeito.

Porque o problema não é virar demais. É virar demais sem alma.

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