Domingo, Dia das Mães. Aqui na ilha, o céu já amanheceu num azul escancarado — daquele que dá vontade de agradecer só por estar vivo (e descalço). E é nesse tipo de manhã que a saudade bate diferente. Vem mansa, meio salgada, meio doce. Traz lembrança de estrada, cheiro de protetor solar, e o eco da risada da minha mãe dizendo: “aproveita, porque a gente só volta no ano que vem”.
Meu pai era músico. Isso significa que, durante a infância, casa era um conceito flexível. A estrada era mais constante que qualquer CEP. Mas meus pais, mesmo cansados, mesmo contando moedas, faziam questão de um ritual sagrado: algumas semanas na praia, todo verão. No Rio Grande do Sul, isso é quase uma religião — o êxodo anual rumo ao litoral. E eles davam um jeito. Trabalhando dobrado, economizando centavo por centavo, só pra que a gente, eu e minha irmã, pudesse sentir areia no pé, sol no rosto e aquela liberdade que só o mar sabe dar.
E eu cresci com esse desejo tatuado no peito: um dia, morar onde os outros só passam férias. Um dia, quebrar o ciclo. Um dia, ter praia o ano inteiro — sem precisar voltar correndo pro começo da fila. E esse dia chegou, muitos anos depois, aqui em Floripa.
Não foi sorte. Foi escolha. Foi ouvir aquela voz que mora dentro da gente — que se parece muito com a da mãe, inclusive — dizendo que dava, sim, pra viver mais leve. Que dá, sim, pra querer o mar como quintal. Que não tem nada de errado em correr atrás do que parecia impossível lá na infância.
Quer saber por que tanta gente vem pra Floripa só de passagem e acaba ficando? Clica aqui… mas depois não diga que eu não avisei. 👀
Minha mãe conheceu Floripa. Veio algumas vezes, curtiu algumas praias, achou o trânsito confuso, riu das placas escritas em manezês e pediu pastel com caldo de cana na beira da Lagoa. Ela não viveu aqui, mas viu esse lugar com os olhos de quem entende quando o filho acerta — e mesmo que ela já não esteja mais entre nós, sei que ficaria feliz de ver o que construí por aqui.
Porque tudo que eu faço aqui tem um pouco dela. Toda vez que eu chego em casa e limpo a areia da entrada com um pano molhado (como ela ensinou). Quando corto cebola do jeito certo. Quando levo um casaco “só por precaução”. Quando ofereço café antes de qualquer conversa. Ou quando simplesmente paro, olho em volta, e penso: “Tá vendo só? Eu consegui.”
A gente vive achando que acerto é sinônimo de status. Mas, com o tempo, a gente percebe que acertar é conseguir dormir em paz. É olhar pro próprio caminho com gratidão. É saber que a vida não é perfeita — mas é exatamente a que você escolheu viver. E Floripa, com todas as suas esquinas de beleza e bagunça, me lembra isso o tempo todo.
No fundo, o que minha mãe me ensinou não foi só cozinhar arroz sem queimar. Foi insistir. Trabalhar com dignidade. Recomeçar sempre que for preciso. E acima de tudo: viver bonito, mesmo com pouco. Fazer valer. E se for pra gastar tudo em alguns dias de felicidade, que sejam bem vividos, bem lembrados, bem amados.
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Hoje, quando caminho pela praia no domingo, não penso só nela. Penso neles — meus pais, meus mestres da resistência. Penso na criança que fui e que sonhava com esse cenário como se fosse coisa de novela. E penso no quanto é simbólico estar aqui, neste pedaço de litoral, no Dia das Mães. Porque estar aqui é, de alguma forma, agradecer. É dizer: “Deu certo, mãe. Você não viu tudo, mas me ensinou o suficiente.”
🧡 Feliz dia das Mães! 🧡